quarta-feira, 30 de junho de 2021

Brasil regride em meta para acabar com o analfabetismo e não alcança objetivo de investir mais na educação, diz relatório

 Uma análise sobre o Plano Nacional de Educação (PNE) aponta que três das 20 metas

estabelecidas para melhorar a qualidade do ensino do país não só não estão sendo

cumpridas como apresentam retrocesso. O PNE foi sancionado no Congresso em 2014,

com prazo para ser cumprido até 2024.

A três anos do fim do período de vigência, nenhuma meta foi alcançada e cinco estão

parcialmente completas. O relatório de análise foi feito pela Campanha Nacional pelo Direito

à Educação, e divulgado nesta quinta-feira (24). A instituição publica análises anuais e, o

governo federal, a cada dois anos. O G1 entrou em contato com o Ministério da Educação

(MEC) na tarde de quarta perguntando as estratégias para atingir os objetivos do PNE até

2024, e não recebeu retorno até a tarde desta quinta.

As metas com retrocesso são:

educação em tempo integral: o objetivo era oferecer ensino integral em metade das escolas

do país, atendendo 25% dos alunos da educação básica até 2024. Mas os números caíram

em vez de subirem. Em 2014, havia 42,6 mil escolas e 6,5 milhões de alunos em tempo

integral. Em 2020, eram 27,9 mil escolas e 4,8 milhões de estudantes nesta modalidade. O

número representa queda de 15 mil escolas e mais de 1,5 milhão de matrículas a menos.

erradicação do analfabetismo: a meta era ter 93,5% dos brasileiros acima de 15 anos

alfabetizados até 2015; erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% o

analfabetismo funcional até 2024. Mas somente em 2020 a meta de 2015 foi atingida. O

quadro de analfabetismo funcional aumentou, quando deveria regredir. Saiu de 27% da

população de 15 a 64 anos com analfabetismo funcional em 2015 para 29% em 2018

(dados mais recentes). A meta era reduzir a 13,5% até 2024.

educação de jovens e adultos e profissional: o plano previa oferecer ao menos 25% de

matrículas da educação de jovens e adultos (EJA) integrada à educação profissional. Mas

se em 2014 havia 2,8% das matrículas de EJA integradas, em 2020 o índice caiu para

1,8%.

As metas parcialmente cumpridas são:

melhorar a qualidade da educação básica: o PNE previa elevar os dados do Índice de

Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) para o ensino fundamental e médio. Houve

melhoria nos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano), o que pode ser atribuído à

mudança no início do ciclo, que agora começa aos 6 anos do aluno, e não mais aos 7. Para

os anos finais (6º ao 9º ano) e ensino médio, as metas estão próximas, mas não foram

atingidas.

triplicar as matrículas do ensino profissional técnico: Se em 2014 havia 20,4% de matrículas

nesta modalidade, em 2020 o índice chegou a 23,6%, longe da meta (200%). A expansão

de seu principalmente na rede pública, que concentrava 10,3% das matrículas em 2014 e

atingiu 94,8% em 2020 – acima da meta, de 50%. A previsão é de não cumprir a meta total,

já que são criadas 50 mil matrículas ao ano, abaixo das 296 mil necessárias.

ampliar a proporção de professores do ensino superior com mestrado e doutorado: a

meta foi atingida na rede pública, mas ainda precisa avançar na rede privada. Em 2019,

último ano com dados disponíveis, havia 25,7% dos professores das faculdades privadas

com doutorado. Na rede pública, era 66%. A perspectiva é de não cumprir o percentual de

docentes com doutorado até 2024.

aumentar as matrículas na pós-graduação: o objetivo era formar todos os anos 60 mil

mestres e 25 mil doutores. A meta para mestres foi batida nos anos de 2017 a 2019, e

agora precisa ser mantida até 2024. Sobre a formação de doutores, será preciso elevar de

17,2 mil titulados todos os anos para 25 mil até 2024.

capacitar professores da educação básica: a ideia era incentivar que metade dos

professores de escolas tivessem pós-graduação em suas áreas de conhecimento até 2024

e oferecer mais formação continuada. Em 2020, o percentual chegou de pós-graduados

chegou a 43,4% e deve atingir o objetivo final. A formação continuada vem crescendo 1,4

pontos percentuais ao ano, quando o indicado era de 6,8 pontos percentuais. Em 2020, dos

2,2 milhões de professores que dão aulas em escolas, 1,3 milhão não havia recebido

formação continuada.

A principal meta não cumprida é:

ampliar o investimento público em educação: para 2024, o objetivo era investir 10% do

Produto Interno bruto (PIB) em educação pública. Entre 2015 e 2017, os gastos estiveram

em torno de 5%. Em 2019, atingiu 7%. Durante a pandemia, o quadro piorou. Houve

aceleração na "desvalorização da prática docente", afirma o relatório, "o que distancia ainda

mais o cumprimento desta meta."

Fonte: G1

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