quinta-feira, 2 de junho de 2022

Projeto que autoriza educação domiciliar começa a ser discutido no Senado

 Chegou ao Senado nesta semana o projeto que autoriza a educação domiciliar,

conhecida como homeschooling, no Brasil. O PL 1.388/2022 foi aprovado pela

Câmara no dia 19 de maio (como PL 3.179/2012) e já está na Comissão de

Educação (CE) do Senado. O relator é o senador Flávio Arns (Podemos-PR).

O presidente da CE, senador Marcelo Castro (MDB-PI), disse considerar que o

projeto desvia atenção do que é essencial na educação para tratar de um assunto

que não contribui em nada para a melhoria do ensino. Apesar de se declarar

contrário ao texto, ele designou o relator assim que o projeto chegou à comissão

para garantir o debate aprofundado do tema.

— Eu tomei a decisão de indicar relator o senador Flávio Ares que é, dentre todos

nós, aquele mais qualificado, mais dedicado à área da educação. Eu

particularmente vejo o ambiente escolar, não só com o ambiente de aprendizado de

conteúdos educacionais. A escola é um ambiente de socialização, de

amadurecimento emocional, de convivência com os contrários, onde as pessoas

aprendem desde crianças a respeitar os outros e saber que o mundo é plural e a

escola é plural. Por isso mesmo eu acho isso um retrocesso do ponto de vista

educacional — disse o senador.

O projeto

O texto aprovado pela Câmara foi um substitutivo da deputada Luisa Canziani

(PSD-PR) ao projeto do deputado Lincoln Portela (PL-MG). Pelo texto aprovado,

para usufruir da educação domiciliar, o estudante deve estar regularmente

matriculado em instituição de ensino, que deverá acompanhar a evolução do

aprendizado.

Pelo menos um dos pais ou responsáveis deve ter escolaridade de nível superior ou

em educação profissional tecnológica em curso reconhecido. A comprovação dessa

formação deve ser apresentada perante a escola no momento da matrícula, quando

também ambos os pais ou responsáveis terão de apresentar certidões criminais da

Justiça federal e estadual ou distrital. Se o projeto for aprovado e virar lei, as regras

devem entrar em vigor 90 dias após a publicação, mas haverá regras de transição

para a exigência de ensino superior ou tecnológico dos responsáveis.

Segundo Luisa Canziani, a mudança garante aos pais e responsáveis o direito de

educar as crianças em casa com a supervisão do poder público. “Elaboramos um

texto com muita tecnicidade, para dar esse direito às famílias, mas, sobretudo, para

garantir o desenvolvimento pleno das nossas crianças”, afirma.

Audiências

Nesta quarta-feira (25), o senador Jean Paul Prates (PT-RN) apresentou um

requerimento à comissão para que sejam feitas oito audiências públicas para

discutir o projeto. No requerimento, ainda não aprovado pela comissão, ele afirma

que o texto deve ser objeto de um grande debate no Senado.

“Ao anular o direito de crianças e adolescentes à educação escolar em benefício do

direito dos pais ou responsáveis legais de escolherem o tipo de instrução que será

ministrada a seus filhos, a educação domiciliar agride o princípio da igualdade de

condições para o acesso e permanência na escola, bem como a liberdade de

aprender e o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas”, diz o senador no

pedido.

Desigualdade

O senador Confúcio Moura (MDB-RO) também criticou o texto e disse que votará

contra a aprovação. Para ele, por falta de uma política educacional firme, estão

surgindo distorções que não vão gerar ganho de qualidade e podem deixar as

condições ainda mais desiguais.

— Eu, no meu ponto de vista e no meu voto, sou contra esse modelo. Seria um

fatiamento da educação formal no Brasil, formando guetos, formando ilhas aqui e

acolá e aumentando ainda mais a desigualdade então. Eu acredito que temos que

concentrar os esforços e recursos na educação pública de qualidade — declarou.

Para a senadora Zenaide Maia (PROS-RN), iniciativas como o projeto da educação

domiciliar se caracterizam como um “ataque sistemático à educação pública do

país”, com o objetivo de retirar a destinação de recursos para a rede de ensino

público, isentando o Estado de sua responsabilidade na redução das desigualdades

na educação e na renda.

— Esses projetos de lei que estão aí assustam. Porque são projetos que

aparentemente são "salvadores da pátria", mas na verdade retiram aqueles

recursos que, obrigatoriamente, independente de que governo for, tem que repassar

para educação — disse a senadora em debate na Subcomissão Temporária para o

Acompanhamento da Educação na Pandemia.

Já o autor do texto, deputado Lincoln Portela, disse que a educação em casa é uma

realidade no país e no mundo há mais de 30 anos. “Em momento algum, quem faz a

educação domiciliar ataca a escola brasileira. Nós queremos que a educação

brasileira saia do 74º lugar, do último lugar no Pisa [Programa Internacional de

Avaliação de Alunos]”, defende no texto.

Movimento

Após a aprovação pela Câmara, o Movimento Todos Pela Educação reforçou o

posicionamento contrário ao projeto. Em nota, manifestou “profunda preocupação”

com suas possíveis consequências para as crianças e jovens brasileiros e também

para a política educacional brasileira. “Caso o projeto de lei seja aprovado no

Senado, isso significará que famílias poderão negar o direito à educação e à

proteção social contra abusos de seus filhos simplesmente por não os mandarem

para a escola”, diz o texto.

No Senado, uma ideia legislativa busca apoio para a regulamentação do

homeschooling no Brasil. O autor, o cidadão Gustavo Campos, do Maranhão,

argumenta que educação domiciliar é uma modalidade de ensino praticada por

cerca de 2,5 mil famílias brasileiras e que carece de regulamentação. Até a tarde

desta quinta-feira a ideia tinha 84 apoiadores

Veja como cada deputado votou em projeto que regulamenta ensino em casa

Santa Catarina

Angela Amin (PP-SC) - Não votou

Carlos Chiodini (MDB-SC) - A favor

Carmen Zanotto (Cidadania-SC) - Não votou

Caroline de Toni (PL-SC) - A favor

Celso Maldaner (MDB-SC) - A favor

Coronel Armando (PL-SC) - A favor

Daniel Freitas (PL-SC) - A favor

Darci de Matos (PSD-SC) - Não votou

Fabio Schiochet (União-SC) - A favor

Geovania de Sá (PSDB-SC) - A favor

Gilson Marques (Novo-SC) - A favor

Hélio Costa (PSD-SC) - Não votou

Pedro Uczai (PT-SC) - Contra

Ricardo Guidi (PSD-SC) - A favor

Rodrigo Coelho (Podemos-SC) - A favor

Rogério Peninha (MDB-SC) - A favor

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