sexta-feira, 30 de abril de 2021

Pesquisa do IBGE revela que 4,1 milhões de estudantes da rede pública não tem acesso à internet

 Em 2019, cerca de 4,3 milhões de estudantes em todo o país não tinham acesso à

internet, seja por razões econômicas ou indisponibilidade do serviço na área em que

vivem. Desse total, 4,1 milhões são alunos da rede pública. Os dados são da

Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad) Contínua, que investigou no

último trimestre de 2019 o acesso à Tecnologia da Informação e Comunicação

(TIC). As informações foram divulgadas no dia 14 de março de 2021.

Entre os principais motivos para alunos da rede pública não possuírem internet em

casa estão o custo do serviço, falta de conhecimento sobre como usar e

indisponibilidade do produto. “Considerando a rede de ensino, vimos algumas

diferenças importantes. Enquanto os estudantes da rede privada, 98,4% utilizaram

internet, entre os estudantes da rede pública o percentual era menor, 83.7%”, avalia

a analista da Pnad Contínua TIC do IBGE, Alessandra Brito.

As diferenças regionais no uso da Internet são mais marcadas entre os estudantes

da rede pública. Assim, enquanto nas regiões Norte e Nordeste o percentual de

estudantes da rede pública que utilizaram a Internet foi de 68,4% e 77%,

respectivamente, nas demais regiões este percentual variou de 88,6% a 91,3%.

Quando são considerados apenas os estudantes de ensino privado, o percentual de

uso da Internet ficou acima de 95% em todas as grandes regiões, alcançando

praticamente a totalidade dos estudantes nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

No início da pandemia de coronavírus no Brasil, as desigualdades sociais e de

ensino foram evidenciadas. Professor de ensino fundamental em uma escola

pública do Distrito Federal, Bruno Rodrigues, pontua que os alunos sem acesso à

internet são os mais prejudicados na modalidade de ensino virtual. “Infelizmente

tenho alguns alunos que por falta de aparelho celular ou computador não tem

acesso às aulas online e, infelizmente, só tem à disposição atividades e conteúdo

impresso sem a intermediação do profissional especializado [professor].”

O professor destaca ainda que a plataforma disponibilizada pelo governo do Distrito

Federal não é acessível a todos e, por isso, é necessário a utilização do Whatsapp

para poder alcançar o estudante da melhor forma possível. Como alternativa, a

escola oferece aos alunos sem acesso a plataforma material impresso, mas Bruno

afirma ser uma tarefa que sobrecarrega os professores. “Além de ter que ir atrás de

contato com pais e responsáveis, estamos online 24h por dia. Por mais que

desejamos e ansiamos, não alcançamos a todos os estudantes como queríamos e

poderíamos.”

A estudante Sofia Santana, 19 anos, mora em Contagem (MG) e passou pela

transição do ensino físico para o remoto em virtude do agravamento da pandemia

da Covid-19. Segundo ela, uma das dificuldades por não ter computador era estudar

pelo celular, pois às vezes o aparelho móvel não tinha espaço suficiente para fazer

o download do conteúdo. Além de se distrair com o aparelho e não conseguir

enxergar bem, pela tela ser pequena.

“O que me prejudicou nessa falta de tecnologia foi a quantidade de conteúdo vista.

Sinto que atrasei muito e não consegui ver tantos materiais para estar pronta para

fazer uma prova”, afirma a estudante.

O secretário de Educação do Espírito Santo e presidente do Conselho Nacional de

Secretários de Educação (Consed), Vitor de Angelo, afirma que a instituição

defende o ensino presencial como ferramenta de desenvolvimento dos estudantes.

Porém, cada estado deve analisar a situação local e decidir a forma de ensino

durante a pandemia. “As autoridades locais devem fazer, caso a caso, uma

avaliação da própria realidade, a fim de que, a partir dessa análise, as atividades

escolares presenciais possam ser retomadas ou não, conforme as condições

epidemiológicas locais", diz.

94,7% dos alunos utilizam o celular para estudar

A pesquisa do IBGE observou que entre os equipamentos com internet utilizados

pelos estudantes estão o microcomputador (56,0%), televisão (35,0%) e tablet

(13,4%). Esses percentuais para não estudantes ficaram em 43,4%, 31,0% e 10,1%,

respectivamente. O telefone móvel celular foi usado pelas duas categorias,

estudantes e não estudantes, totalizando 97,4% e 98,9%, nesta ordem.

Contudo, o grupo de estudantes não é homogêneo. Quando separados por rede de

ensino, as diferenças são significativas no uso do computador, da televisão e do

tablet para acessar a Internet.

Em 2019, enquanto 81,8% dos estudantes da rede privada acessaram a Internet

pelo computador, este percentual era de apenas 43% entre os estudantes da rede

pública. O uso da televisão para acessar a Internet foi de 51,1% dos estudantes da

escola privada, sendo este percentual o dobro do apresentado entre estudantes da

escola pública (26,8%). No uso do tablet, a diferença chega a quase três vezes.

Mais uma vez, o telefone móvel celular foi o principal equipamento utilizado para

acessar a Internet pelos estudantes tanto da rede pública (96,8%) quanto da rede

privada (98,5%).

O acesso à Internet por meio da telefonia móvel celular é um recurso de

comunicação e de obtenção de informação que vem sendo visto cada vez mais

como integrante do cotidiano de um número crescente de pessoas. Em 2019, o

percentual de pessoas com telefone móvel celular para uso pessoal era maior entre

não estudantes (82,9%) que entre estudantes (73,2%). Contudo, entre estudantes,

houve diferença significativa neste percentual. Enquanto 92,6% dos estudantes da

rede privada tinham telefone móvel celular para uso pessoal, este percentual era de

apenas 64,8% entre aqueles da rede pública.

Para a mestra em educação, Rozana Maria de Lima, a questão financeira das

famílias impacta diretamente na questão educacional e deveria existir, por parte do

governo, um suporte tecnológico para cada residência, de forma que o acesso ao

ensino chegue a todos.

“O acesso à internet também poderia ser um eixo a ser estudado futuramente para

atender as famílias de baixa renda. Mas quando é prestado um suporte ou um

auxílio que possibilite fazer essa inclusão digital, viabilizando pelo menos a compra

de um celular por residência, o impacto já é amenizado. Pois o cenário da

comunicação é estendido, ajudando de alguma forma, tanto na inclusão digital do

estudante quanto na das famílias”, afirma Rozana.

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busca voluntários

O secretário de Educação do Espírito Santo e presidente do Consed, Vitor de

Angelo, afirmou que a instituição tem trabalhado com o Congresso Nacional na

tentativa de buscar políticas de financiamento e públicas do Ministério da Educação

para promover o acesso à internet, como também a compra de equipamentos como

celular, tablet e computador para os alunos utilizarem neste período de pandemia e,

possivelmente, à longo prazo.

“Essa necessidade que hoje é, sobretudo, emergencial, ligada a uma questão de

saúde pública, é um desafio pedagógico. Nós temos buscado junto ao Congresso

Nacional para termos do MEC o financiamento para políticas dos estados ou

políticas nacionais.”

Octávio Henrique, professor estadual em Belo Horizonte e coordenador do cursinho

popular Conceição Evaristo, também na capital mineira, pontuou que a falta de

acessibilidade digital prejudicou os estudantes, mas que a instituição popular

disponibilizou tablet e notebook aos alunos que precisavam. Mas isso apenas

ocorreu quando perceberam que o ensino remoto duraria todo o ano de 2020, antes

dessa ação, alguns alunos pararam os estudos.

De acordo com Octávio, uma das maiores dificuldades do ensino remoto foi adaptar

a forma de trabalho sem suporte do governo. “Não estávamos acostumados com a

forma de executar o nosso trabalho, até porque não podemos chamar de EAD

(Ensino à Distância), é um ensino remoto emergencial, porque não existia

capacitação prévia para que nós executássemos a nossa profissão. Além de tudo,

não temos amparo financeiro do governo para adequação da nossa estrutura de

trabalho remoto.”

Uso de internet em área rural teve aumento de 55,6%

No cenário total de utilização da internet no país, o crescimento mais acelerado do

uso do serviço nos domicílios da área rural contribuiu para reduzir a grande

diferença em relação aos da área urbana. De 2018 para 2019, o percentual de

domicílios em que a Internet era utilizada passou de 83,8% para 86,7%, na área

urbana, e aumentou de 49,2% para 55,6%, na área rural.

O crescimento ocorreu em todas as regiões. O Sul apresentou aumento de 67,2%, o

Sudeste 64,6% o Centro-Oeste 62,1%, o Nordeste 51,9% e o Norte 38,4%.

Fonte: Brasil 61

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